quinta-feira, 31 de maio de 2012

A igreja e a ética social



A preocupação com a ética social nos evoca aos propósitos de Deus e a responsabilidade para com a sociedade em que estamos inseridos. De uma forma mais geral a palavra ética é usada para definir o estudo filosófico ou teológico da moral, esforço em definir a vivência humana. Assim a ética seria o estudo das praticas humanas. Ela é o estudo do raciocínio por trás das nossas crenças e valores morais, é o estudo da justificação dos valores morais que adotamos. 
Na civilização ocidental, a ética têm sido normalmente pensada a partir do individuo e orientada para o individuo, especialmente desde a forte ênfase individualista que emergiu com o tríplice advento do protestantismo, do capitalismo moderno e do iluminismo. Já a ética social enfatiza a natureza social do ser humano, sua vida em sociedade e suas relações. Ela estuda criticamente a vida moral em sociedade, enfatizando as relações sociais e a qualidade dessas relações. A ética social cristã se preocupa em discernir a vontade de Deus para a vida social humana, é uma reflexão sobre a resposta do ser humano à ação e a natureza de Deus e pela sua própria natureza, requer um dialogo dinâmico e aberto entre a igreja e a sociedade como um todo.
Não importando o ponto de vista a qual defendemos não devemos cair no erro de absolutiza-lo principalmente a partir de realidades relativas, o questionamento honesto de qualquer base moral extrínseca nos aproxima mais da base do nosso ser (Deus), do que uma aquiescência desonesta a tais bases morais. Temos responsabilidade com Deus e com o próximo que exige de nós uma consciência de nossas vulnerabilidades e limitações. A ética social cristã entende que um dos principais desafios que enfrentamos é o dos conflitos morais que existem em razão de vivermos numa sociedade plural, diversificada, fragmentada, e com lealdades e valores que levam grupos diversos a diferentes direções.
O pensamento da maioria dos evangélicos brasileiros esta nas “coisas eternas” e esquecem ou abdicam do compromisso ético social. O único ponto de contato das igrejas com o resto da sociedade e do mundo tem a finalidade de evangelizar, discipular e fazer missões. Os cristãos precisam se preocupar com a fome, a opressão, a guerra e cm o sofrimento humano em geral, não porque estas coisas sejam ultimas em si mesmas, mais porque elas impedem a vida em graça que Deus deseja para os homens.
Qualquer religião que professa estar preocupada com as almas dos homens e que não esta preocupada com as favelas que os destroem, com as condições econômicas que os estrangulam e com as condições sociais que os massacram, é uma religião seca e empoeirada. Tal religião é o que Marxistas chama de - um perfume artificial para o povo. A religião que é verdadeira a sua natureza deve se preocupar com as condições sociais do homem.
“Quando a religião negligencia esse fato básico ela é reduzida a um mero sistema ético no qual a eternidade é absorvida pelo tempo e Deus é relegado a uma mera ficção da imaginação humana, sem significado algum.[...] A religião lida tanto com o terreno quanto com o celestial, tanto com o temporal como com o eterno. A religião opera não somente no plano vertical , mais no horizontal. Ela procura não somente integrar o homem com Deus, mas também uns com os outros, bem como consigo próprios.” ( Marther Luther King, Jr. Stride Toward Freedom ( New York: Harper, 1958, 36p.) 75p
A religião pode auxiliar, nutrir e mobilizar uma visão do possível e do necessário, que tem base na solidariedade humana, bem como nas tradições distintas de moralidade, compaixão e espiritualidade. A ânsia espiritual das pessoas e a tradição religiosa podem tomar formas autênticas que nos ofereçam caminhos para a verdade e para a preocupação ultima da humanidade, que nenhuma outra agência humana pode compreender totalmente. Diante de tais circunstâncias, não há duvida de que é um potencial e uma responsabilidade da igreja cristã contribuir na construção de uma ética universal. 
É preciso que, entendamos essa responsabilidade num contexto de uma sociedade plural e fragmentada, na qual precisamos nos encontrar não como únicos ou principais agentes, mas como agentes que tem a contribuição a dar pelo bem comum. A idéia não é converter a cultura ou a sociedade uma determinada expressão de fé, nem modelá-la ao nosso próprio gosto, mas sim participar conscientemente e responsavelmente dela, afirmando que como evangélicos brasileiros temos uma contribuição importante a dar na luta para construir uma sociedade menos injusta. Ao nos preocupar com essas penúltimas coisas estaremos fazendo o que nos cabe como cristãos responsáveis, ou seja, preparando o caminho para a realização dos propósitos últimos de Deus para a humanidade, e particularmente para a sociedade onde estamos inseridos. 
A importância do desenvolvimento de uma ética social nos ajudará a refletir e encontrar resposta para as questões “como(s)”, “por que(s)” e “para que(s)” da nossa moral no contexto dessas relações sociais às quais estamos expostos. Uma reflexão visando o desenvolvimento de uma ética social cristã poderá capacitar a igreja para exercer um papel mais significativo e relevante na sociedade em que está inserida. Tendo a consciência de que qualquer cristão comprometido tem a responsabilidade de lutar contra as formas de injustiças que neguem os propósitos de Deus para a humanidade.

BARRETO, Raimundo César Jr. A ética Social e sua relevância para a igreja hoje. Epistemê, Feira de Santana, Ano 03, nº 02, jul/dez 2001. 65-80 p.

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